Você nem sabe
Você nem sabe, mas eu quase te liguei uma vez. Coloco o quase, porque este resulta em vários
fatores que você nunca sonhou ou sonharia em chutar. Vou te contar. Vou lhe escrever.
Era a minha irmã. Ela estava correndo. Com o meu celular. Você tinha me mandado uma
mensagem, eu pedi pra ela ler. A velocidade só aumentava na esteira, e ela continuava seguindo o
ritmo. Sem querer, ela apertou o ligar. Ela estava TE ligando. O desespeiro tomou conta. A esteira
só ganhava velocidade e ela corria para não se estatelar no chão. O celular travou, ela não
conseguia cancelar a ligação.
Ela apertou o stop de emergência e levou um tombo na esteira. Respirou fundo, mas viu que a
ligação tinha sido cancelada. Esse foi um pedaço do meu quase.
O outro pedaço foi quando, nesse mesmo dia, eu estava chorando as minhas entranhas fora por
causa de uma parte da minha vida que me fez muito mal. Quase te liguei, mas preferi as palavras -
como sempre - e te escrevi. Você disse que não sabia como era, mas entendia. Você disse que
estaria lá por mim. Cadê você?
Vendo agora, meses depois, eu gostaria, sabia? De falar com você no telefone. Eu gostaria de ter
podido fazê-lo. Escutar você me falando qualquer coisa, às três das manhã, com essa sua voz rouca
e sexy. Tipo acabei de acordar. Meio brincalhona, com uma mistura de menino manhoso. Fazendo
graça. Essa voz de homem que ainda não se descobriu. Ainda não sabe o que quer e o que é.
Vinte e dois anos e ainda não faz ideia. Olhos castanhos e se veste como se fosse o dono da
verdade. O dono do mundo. Foi o dono do meu mundo por uma noite. Algumas horas. Vinte e dois
anos e se acha velho. Me acha nova, pirralha, estranha, vampira, errada e jovem demais para saber
qualquer coisa sobre essa imensidão que chamamos de mundo. Ah.... mas eu sei. Dezoito anos e
uma bagunça. Mas uma bagunça que sabe o que quer. Sabe o que é quando está limpa. Escritora.
Salva vidas. Ou gosta de pensar que salva, ou que salvará um dia. É tudo que sei. É tudo que
importa. Que basta. Se você soubesse que eu era uma bagunça no começo, você teria tentado me
limpar?
Você nunca me ligou. E eu nunca consegui apertar o botão sem que meu corpo inteiro entrasse em
síncope e minhas mãos tremessem tanto que eu não conseguisse digitar nem uma letra. Me dói ver
e lembrar de tudo que não fomos. Porque não podemos. Porque você não deixou. Porque, talvez,
não era certo. Porque nunca foi.
E eu queria. Droga, como queria. Mas é como Rolling Stones diz: "You can't always get what you
want."
Mas não fomos a tinta. Não fomos a letra. Não fomos a música. Não somos. E, talvez, nunca
seremos.
Você nem sabe, mas eu quase te liguei uma vez. Coloco o quase, porque este resulta em vários
fatores que você nunca sonhou ou sonharia em chutar. Vou te contar. Vou lhe escrever.
Era a minha irmã. Ela estava correndo. Com o meu celular. Você tinha me mandado uma
mensagem, eu pedi pra ela ler. A velocidade só aumentava na esteira, e ela continuava seguindo o
ritmo. Sem querer, ela apertou o ligar. Ela estava TE ligando. O desespeiro tomou conta. A esteira
só ganhava velocidade e ela corria para não se estatelar no chão. O celular travou, ela não
conseguia cancelar a ligação.
Ela apertou o stop de emergência e levou um tombo na esteira. Respirou fundo, mas viu que a
ligação tinha sido cancelada. Esse foi um pedaço do meu quase.
O outro pedaço foi quando, nesse mesmo dia, eu estava chorando as minhas entranhas fora por
causa de uma parte da minha vida que me fez muito mal. Quase te liguei, mas preferi as palavras -
como sempre - e te escrevi. Você disse que não sabia como era, mas entendia. Você disse que
estaria lá por mim. Cadê você?
Vendo agora, meses depois, eu gostaria, sabia? De falar com você no telefone. Eu gostaria de ter
podido fazê-lo. Escutar você me falando qualquer coisa, às três das manhã, com essa sua voz rouca
e sexy. Tipo acabei de acordar. Meio brincalhona, com uma mistura de menino manhoso. Fazendo
graça. Essa voz de homem que ainda não se descobriu. Ainda não sabe o que quer e o que é.
Vinte e dois anos e ainda não faz ideia. Olhos castanhos e se veste como se fosse o dono da
verdade. O dono do mundo. Foi o dono do meu mundo por uma noite. Algumas horas. Vinte e dois
anos e se acha velho. Me acha nova, pirralha, estranha, vampira, errada e jovem demais para saber
qualquer coisa sobre essa imensidão que chamamos de mundo. Ah.... mas eu sei. Dezoito anos e
uma bagunça. Mas uma bagunça que sabe o que quer. Sabe o que é quando está limpa. Escritora.
Salva vidas. Ou gosta de pensar que salva, ou que salvará um dia. É tudo que sei. É tudo que
importa. Que basta. Se você soubesse que eu era uma bagunça no começo, você teria tentado me
limpar?
Você nunca me ligou. E eu nunca consegui apertar o botão sem que meu corpo inteiro entrasse em
síncope e minhas mãos tremessem tanto que eu não conseguisse digitar nem uma letra. Me dói ver
e lembrar de tudo que não fomos. Porque não podemos. Porque você não deixou. Porque, talvez,
não era certo. Porque nunca foi.
E eu queria. Droga, como queria. Mas é como Rolling Stones diz: "You can't always get what you
want."
Mas não fomos a tinta. Não fomos a letra. Não fomos a música. Não somos. E, talvez, nunca
seremos.